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Marilyn, Glenn Close e as Domésticas Espanholas


7 DIAS COM MARILYN (My Week with Marilyn). O triste para um cinéfilo como eu é filme após filme criar  expectativas com filmes frustrantes. Por isso, quando algum filme como este Marylin, supera essa expectativa é motivo de grata surpresa. Porque embora a atuação de Michelle Williams tenha sido bastante elogiada e premiada, a mesma atenção não foi dedicada ao filme em si, o que é uma injustiça. É claro que sua interpretação é espetacular mesmo. Muitas pessoas à época da produção do filme disseram que ela era uma escolha errada, que pouco se parecia fisicamente com Marilyn Monroe. Mas Williams calou a boca de todos, mostrando o quanto estavam errado. Se ela ficou ou não parecida com a verdadeira Marilyn torna-se irrelevante, porque ela soube captar a essência e compor sua personagem de maneira esplêndida. Kenneth Branagh também não se parece com Laurence Olivier, e sua performance é igualmente excelente. O que torna o filme extremamente interessante é não ser uma cinebiografia, com a intenção de contar a vida de Marilyn, mas sim estar focado como diz o título, em uma semana apenas do seu breve relacionamento com o inglês Colin Clark , autor do livro que inspirou o filme.



ALBERT NOBBS. Muitos filmes já foram feitos sobre homens se passando por mulher (Tootsie, Quanto Mais Quente Melhor) ou mulheres se passando por homem (Meninos Não Choram, Yentl), mas a quase totalidade deles sempre abordaram o assunto de forma leve, cômica. Albert Nobbs é um drama, e parece que perdeu a chance de explorar com mais profundidade essa condição da personagem principal. Glenn Close praticamente escondida por trás de uma pesada maquiagem para deixá-la com feições masculinas tem pouco espaço para a interpretação, estando longe do que sabemos que ela é capaz (sua melhor interpretação continua sendo como Madame de Tourvel, em Ligações Perigosas), e sendo praticamente ofuscada por uma composição superior na interpretação de Janet McTeer. Glenn Close apostou alto no filme, colaborando no roteiro e na produção, mas resta a impressão de que o assunto merecia um tratamento mais profundo da personagem, o que poderia ter rendido uma história bem mais interessante.





AS MULHERES DO 6º ANDAR (Les Femmes du 6ème Étage). O "sexto" andar do título é na verdade o que chamaríamos de sótão, e é onde moram as domésticas de um condomínio da Paris na década de ´60, todas elas espanholas, prestando serviços aos patrões que habitam os andares abaixo. Um deles, Sr. Joubert vai romper o distanciamento patrão-empregado e passa a mudar as condições da vida dessas empregadas espanholas, que por sua vez, é claro, irão influenciar e mudar para sempre a vida tediosa do Sr. Joubert. Mulheres do 6º Andar é uma simpática e agradável comédia, que se dá ao luxo de ter como coadjuvante a estrela dos filmes de Almodóvar, Carmem Maura.

Românticos Anônimos


     O título original, bem traduzido, seria "Emotivos Anônimos" e não "Românticos Anônimos", uma referência aos grupos do tipo Alcóolicos Anônimos, cujos membros se auto-ajudam por sofrerem do mesmo mal e passarem pelas mesmas dificuldades. Pois, os "emotivos anônimos" seriam pessoas tão tímidas ou tão emotivamente à flor da pele que teriam grandes dificuldades com as coisas simples da vida (para os outros), sendo o pesadelo píor conseguirem iniciar uma relação amorosa. 
      Confesso que não são muito fã de comédias românticas, tão previsíveis, tão sem sal na maioria das vezes, cheias de batidos clichês e com parzinhos românticos sempre representados pelo casal "bonitinho" mais em evidência em Hollywood. 
      Mas Românticos Anônimos é uma agradável surpresa. Tão despretensioso, tão leve, simpático e divertido, que se torna realmente um prazer assisti-lo. O diretor, Améris, soube dosar bem romantismo e comédia, e teve a sorte ou faro para entregar os papéis principais aos excelentes Benoît Poelvoorde (Jean-René) e Isabelle Carré (Angélique), que com interpretações interiorizadas conseguem compor suas personagens de forma delicada, mas rica em detalhes.
         Se você acha comédias românticas por demais açucaradas, e as evita como um diabético evita açúcar, a única contra-indicação de Românticos Anônimos a chocólatras como eu, é que assisti-lo dá uma vontade enorme de comer chocolate!

Benoît Poelvoorde (Jean-René) e Isabelle Carré (Angélique)


De Repente, 30

Os novos clássicos, produzidos em 1982, foram muito marcados pela música. Trilhas sonoras marcantes, originalmente produzidas para eles ou não, ficaram tão ou mais famosas que os filmes em que foram utilizadas. Um musical (Vitor ou Vitória?), uma ópera-rock (Pink Floyd - The Wall), 2 trilhas populares (E.T. e Blade Runner) confirmam isso.

E.T. O EXTRATERRESTRE (E.T. - The Extraterrestrial). Para quem hoje tem entre 30 e 40 anos, este provavelmente foi o filme de sua infância. Foi o filme mais visto da década (e uma das maiores bilheterias de todos os tempos), mas embora considerado para crianças, agradou muito marmanjo. Lançou Drew Barrymore - hoje, além de atriz, é também produtora e diretora - a única criança do elenco que emplacou uma carreira após o filme. A sequencia do voo da bicicleta é o ponto alto do filme, que inclusive virou o logotipo da produtora Amblin, de Steven Spielberg.

BLADE RUNNER. Embora tenha sido um fracasso em sua estréia, este filme noir de ficção científica foi aos poucos conquistando uma legião de fãs. Várias reestreias depois e novas versões do diretor, esse cult acabou agradando, tendo sido incluído na lista da revista Time como um dos 100 melhores filmes de todos os tempos. Ridley Scott foi além de uma simples aventura de ficção científica - que é o que parece que o grande público queria - com temas como a mortalidade e o destino do homem como indivíduo e seu futuro no planeta. A soberba e nada óbvia trilha sonora de Vangelis - jazz para embalar um policial futurista - além de um excelente trabalho de ambientação e inovadores efeitos visuais resultou numa produção caprichada, que ainda resiste ao tempo.


FANNY & ALEXANDER. (Fanny och Alexander).  Talvez o mais acessível filme de Bergmann, que não escondeu que o filme tem muito de autobiográfico, é praticamente uma celebração da vida, da família, da infância, do amor e do sexo - algo inusitado em seus filmes até então. Com uma produção caprichadíssima, recebeu 4 Oscars - além de filme estrangeiro, fotografia, direção de arte e figurino - o terceiro para Bergmann e o segundo para seu fotógrafo Sven Nykvist. 



VITOR OU VITÓRIA ? (Victor/Victoria).  O melhor musical em anos, o filme é mais uma comédia recheada com números musicais, refilmagem de uma desconhecida e antiga produção alemã.  Marcou um retorno triunfal do diretor Blake Edwards (da série Pantera Cor-de-Rosa) e da atriz Julie Andrews (de Noviça Rebelde).  O imbroglio da trama - uma mulher que se faz passar por um homem que se faz passar por uma mulher - tinha uma similaridade com Tootsie, lançado no mesmo ano, o que fez muitos se perguntarem se tinha havido vazamento de projetos pelos estúdios concorrentes. Tootsie levou a melhor na bilheteria, e teve o apoio da crítica que via nele mais conteúdo, mas Vítor ou Vitória ? revelou-se um clássico instantâneo, com excelente trilha de Henry Mancini - vencedora do Oscar naquele ano.


PINK FLOYD - THE WALL.  Roger Waters  revelou que ao lançar o projeto do álbum The Wall, já o havia idealizado como um filme, que foi lançado somente 2 anos depois do disco. Outras experiências de filmes ópera-rock foram feitas na década de ´70 - como Tommy, do The Who - mas nenhuma foi tão bem sucedida como esta produção do experiente Alan Parker (O Expresso da Meia-Noite, Fama), que contou com a inestimável colaboração no visual do designer Gerald Scarfe. Poucas vezes no cinema, música e imagem tiveram um casamento tão visceral.

Outros clássicos que completam 30 anos:

Um Método Perigoso


David Cronenberg, diretor de Um Método Perigoso, começou com thrillers de terror como Scanners (1981)Videodrome (1983) e A Mosca (1986) e depois mergulhou de cabeça em projetos bem alternativos como Mistérios e Paixões (1991). Nos últimos anos parecia bastante interessado em retratar e analisar a violência na América (ou seja, os Estados Unidos, porque Cronenberg é canadense), em filmes onde atingiu sua maturidade como diretor (Uma História de Violência - melhor filme pela Associação dos Críticos Americanos em 2005 - e Senhores do Crime-2007), deixando de lado os excessos de seus primeiros filmes. Este Método Perigoso foi recebido sem entusiasmo pela crítica, que achou o filme fraco se comparado com seus 2 últimos trabalhos. Além disso, embora unanimemente elogiadas as performances de Viggo Mortensen como Freud (3º filme que faz com o diretor) e Michael Fassbender como Jung, a interpretação de Keira dividiu opiniões. Alguns acharam exagerada nos tiques nervosos (um "overacting", como se diz em inglês), outros acharam corajosa. 


O trailer do filme faz questão de enfatizar cenas de sexo, para vendê-lo comercialmente, mas quem tiver esta expectativa em relação ao filme vai ficar decepcionado. Embora roteiristas e diretor tenham tomado todas as liberdades possíveis a partir do que historicamente se sabe entre a amizade Freud e Jung e o relacionamento desse com sua paciente Sabina Spielrein (Keira Knightley), o filme realmente é até bem-comportado e feito num formato de narrativa bem clássico, apoiado nos diálogos e interpretações.


Um Método Perigoso está muito acima da média de tudo que é feito atualmente no cinema. E se, realmente, neste filme Cronenberg não impôs um estilo pessoal à narrativa, isto não pode ser de forma alguma analisado como um defeito. Se este é seu filme "fraco", um cinéfilo como eu se daria por satisfeito em ter mais chance de ver filmes fracos assim. No boca-a-boca, Método Perigoso acabou conquistando um público realmente interessado em ver filmes como esse, que fogem do trivial que é jogado a cada semana nos cinemas, alcançando perto de 300.000 espectadores no Brasil e quase U$ 30 milhões em todo o mundo - uma excelente marca hoje em dia para filmes que vão além de efeitos especiais.

Curiosidade: a mesma história já foi retratada antes no cinema, no filme italiano Jornada da Alma, de 2003.