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Reino Animal


     O que fazer quando não se pode confiar em sua própria família nem na polícia que prometeu dar segurança e proteção? Este é o plot central de Reino Animal, produção australiana de 2010, que não conseguiu distribuidor nos cinemas do Brasil e chegou diretamente às locadoras. Fora os elogios da crítica, o filme teve uma boa publicidade graças à indicação ao Oscar para melhor atriz coadjuvante de Jacki Weaver, a avó da família Cody. O filme é uma agradável surpresa, pois além de vir da Austrália - que embora mantenha um bom ritmo de produção de filmes e tenha revelado nas últimas décadas bons atores e realizadores, raramente consegue furar o bloqueio das produções made in Hollywood - não esconde seu baixo orçamento, mas consegue impor um bom ritmo de ação e ao mesmo tempo, com seus personagens emblemáticos, deixar no espectador espaço para a reflexão. A matriarca interpretada com sutileza e sem excessos por Jacki Waver, comanda seus filhos, todos envolvidos em pequenos crimes e contravenções, como um chefe mafioso das antigas. Não é ela quem determina o que cada um deve e pode fazer, mas é a ela que todos devem respeito, e por ela e pelo bem da família que todos devem colaborar (é extremamente simbólico o beijo na boca que ela pede aos filhos a todo momento - um equivalente ao beijo na mão dos padrinhos mafiosos e também uma referência ao famoso "ósculo" da Bíblia, sendo que nessa família traidores como Judas jamais serão perdoados). 

Cena de Reino Animal, com Jacki Weaver

     O recém chegado neto (James Frecheville) vai ter que encontrar o seu lugar na família e no mundo, que sem demora vai lhe mostrar que não há chance dele se proteger no conforto do "em cima do muro".  O próprio diretor Michôd escreveu o roteiro,  por isso , talvez, tenha conseguido a impressionante unidade e coerência da narrativa. O desfecho que "J" (Frecheville) dá à sua insustentável situação parece mostrar que o instinto de sobrevivência fala mais forte. O novato e aparentemente ingênuo órfão chama para si a liderança do clã, revertendo o destino trágico a que estava destinado. Reino Animal é um filme forte, bem realizado, e com caracterizações e interpretações impecáveis de todo o elenco. Um drama de ação acima da média, com uma sutil análise sociológica da condição humana dos excluídos na sociedade contemporânea, e como o crime e a violência dos dias de hoje influencia o modus operandi das famílias envolvidas (algo a que raramente se dá a devida importância nos filmes do gênero).

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3 Times Campeões

Não, não estou falando de futebol. O "time' em um filme é o elenco, os atores escalados. Nestes 3 filmes em particular, lançados há pouco nas locadoras, e nos cinemas do Brasil ainda este ano, o elenco é o ponto forte:


Histórias Cruzadas (The Help) não recebeu um bom título no Brasil, isto e alguns motivos mais podem ter afastado um público melhor nos nossos cinemas, já que nos Estados Unidos, o filme foi o drama de maior bilheteria em 2011 (arrecadando em torno de U$ 169mi). Embora muitos filmes já tenham sido feitos sobre a questão do racismo segregacionista nos Estados Unidos pré-Martin Luther King, o filme tem uma abordagem nova do assunto, e sabe contar sua boa história. Octavia Spencer ganhou o Oscar de atriz coadjuvante, e Viola Davis e Jessica Chastain também foram indicadas pelo filme, além de saírem vencedoras em várias outras premiações. Completam o elenco as conhecidas Emma Stone, Mary Steenburgen e Sissi Spacek, num elenco predominantemente feminino.


Contrariamente, Margin Call - O Dia Antes do Fim possui um elenco quase totalmente masculino - com exceção de Demi Moore - talvez por retratar um universo ainda dominado por homens, o das operadoras de compra e venda de ações. Embora para a maioria das pessoas bolsa de valores e seu jargão particular soe como grego, o filme está mais interessado em nos retratar "os corações e mentes" das pessoas que trabalham nesse universo. No mundo globalizado ocidental de hoje, são eles que mandam no mundo, e não nossos governantes, como ingenuamente pensamos, às vezes. É mais ou menos assim: eles fazem apostas altas, e quando o jogo "quebra" suas bancas (como aconteceu em 2008 - foco do filme), nós, o povo, é que pagamos a conta. Kevin Spacey, Paul Bettany, Jeremy Irons, Simon Baker e Stanley Tucci dividem a tela com Demi Moore, um elenco afiado e equilibrado, dirigidos com competência pelo estreante diretor e roteirista J. C. Chandor. Diálogos excelentes e pequenas metáforas numa abordagem crítica e ácida a Wall Street.


Gary Oldman (indicado para o Oscar por este papel) encabeça o elenco no thriller de espionagem O Espião que Sabia Demais, baseado em um livro de John Le Carré, e que lembra os clássicos de espionagem que Hollywood produziu nos anos ´50 (guerra fria , lembra?), no qual também encontramos John Hurt, Colin Firth, Tom Hardy e coadjuvantes sem nomes famosos, mas igualmente excelentes. O filme é particularmente inglês, e embora espionagem e agentes infiltrados às vezes seja um pouco árido de compreender, o filme se faz perfeitamente compreensível.