Páginas

Páginas

O Ano Hitchcock

          Hitchcock completaria 113 anos em 2012, se fosse vivo. Ficaria lisonjeado. Além de um filme, que mais especificamente que sua vida, conta a verdadeira saga para filmar seu maior sucesso de público (Psicose, de 1961), o filme Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958) foi votado este ano como o melhor filme de todos os tempos, em uma enquete da revista inglesa Sight and Sound junto a 250 críticos de todo o mundo. 




         Para quem quer relembrar ou ficar mais por dentro da filmografia do velho mestre inglês, está chegando ao mercado o Box Alfred Hitchcock - A Obra-Prima. São 14 de seus mais famosos filmes, em Blu-ray. O preço é meio salgado (por volta de R$ 450,00), mas é um item obrigatório para qualquer cinéfilo e fã do diretor. Filmes da caixa: Psicose, Um Corpo que Cai, Os Pássaros, Janela Indiscreta, Festim Diabólico, O Homem que Sabia Demais, Cortina Rasgada, Frenesi, Marnie - Confissões de uma Ladra, Topázio, Sabotador, O Terceiro Tiro, À Sombra de uma Dúvida e Trama Macabra, englobando um período que vai de 1942 a 1976. Na minha opinião, ficaram de fora 2 excelentes filmes de Hitchcock: O Homem Errado e Intriga Internacional.


PRÓXIMAS ATRAÇÕES (Parte 2)



OS MISERÁVEIS (Les Misérables). Depois de 27 anos de sua estréia na Broadway, o musical ganha sua versão para o cinema. OK.., os americanos adoram musicais e os brasileiros detestam. Mas o sucesso por aqui de Moulin Rouge e Mamma Mia! podem ter aberto um precedente. Anne Hataway, Hugh Jackmann, Russel Crowe e Amanda Seyfried (de Mamma Mia!) são os principais nomes do elenco, dirigidos por Tom Hooper (de O Discurso do Rei). Estréia mundial no Natal.


A VIAGEM (Cloud Atlas). Outro livro tido como infilmável, por muitos. Os produtores e diretores da trilogia Matrix toparam o desafio e convidaram o diretor alemão Tom Tykwer (de Corra, Lola, Corra) para orquestrar um elenco all-stars: Tom Hanks, Susan Sarandon, Hugh Grant, Halle Berry interpretam cada um 4 personagens diferentes, em épocas distintas. A crítica americana se dividiu quanto aos méritos do filme, mas o público já fez dele um sucesso neste final de 2012.







LINCOLN. Daniel Day Lewis (Sangue Negro, Meu Pé Esquerdo) incorpora o 16º presidente norte-americano, no mais novo filme de Steven Spielberg. O filme não se propõe a ser uma cinebiografia de Abraham Lincoln, mas se concentra mais especificamente no período da Guerra da Secessão.







THE MASTER (título provisório: O Mestre). O mais novo filme de Paul Thomas Anderson (de Sangue Negro) se saiu bem no último Festival de Berlim: ganhou os prêmios de melhor direção para Anderson e um prêmio compartilhado de melhor ator para Joaquim Phoenix e Philip Seymour Hoffman. O filme teve ótimas críticas nos EUA e um mediano sucesso de público. A história é uma mal-disfarçada biografia do criador da Cientologia, espécie de seita seguida por muitos astros de Hollywood, como Tom Cruise.





OSLO, AUGUST 31st.(título provisório no Brasil: Oslo, 31 de Agosto). Elogiadíssimo drama da Dinamarca, conta 1 dia na vida de Anders, que está se recuperando do vício em drogas numa clínica de reabilitação em Oslo. No dia 31 de agosto, ele ganha a permissão para sair, visitar família e amigos e fazer uma entrevista de emprego. 

PRÓXIMAS ATRAÇÕES (Parte 1)


          Sucessos de público. Sucessos de crítica. Sucessos em festivais. Todo tipo de filme, para todos os gostos. EM BREVE - no final de 2012 ou início de 2013, estes filmes estarão em algum cinema (ou locadora) perto de você:



AS AVENTURAS DE PI. (Life of Pi). Adaptação do premiado romance de mesmo nome, a história era tida como "infilmável". Ang Lee, o diretor de O Segredo de Brokeback Mountain e O Tigre e o Dragão aceitou o desafio e, pelo visto, se saiu muito bem. No elenco os conhecidos Tobey Maguire e Gérard Depardieu.



AMOUR. O sempre polêmico diretor Mikael Haneke (de Caché e A Fita Branca) surpreendeu este ano no Festival de Cannes, com esta história de amor entre um casal na faixa dos 80 anos. Nos papéis principais 2 astros franceses da década de ´60, Jean-Louis Trintignant e Emannuelle Riva O resultado: a Palma de Ouro em Cannes e muitos fãs nos Estados Unidos, que querem vê-lo disputando o Oscar.







ANNA KARENINA. A mais nova versão deste clássico da literatura russa. O talentoso diretor Joe Wright, de Desejo e Reparação e Orgulho e Preconceito, era mesmo a escolha mais acertada para esta nova adaptação cinematográfica. No papel-título a atriz preferida de Wright, Keira Knightley, dividindo a cena com Jude Law.






THE IMPOSSIBLE (título provisório: O Impossível). O diretor espanhol Juan Antonio Bayona, de O Orfanato, dirige seu primeiro filme internacional, com os astros Naomi Watts e Ewan McGregor. O filme obteve, por enquanto, a maior cotação no site Metacritic em 2012.







INDOMÁVEL SONHADORA. (Beasts of the Southern Wild). Para muitos críticos americanos, o melhor filme made in USA de 2012, até o momento. A atriz principal, de apenas 6 anos e nome quase impronunciável - Quvenzhané Wallis - tem recebido os maiores elogios por sua interpretação.

007 - Operação Skyfall


          A série (ou, como se diz hoje, "franquia") dos filmes de 007 é a mais longa e bem-sucedida da história. São nada menos que 50 anos. Um filme de 007 é praticamente um gênero em si, que após tantos filmes já estabeleceu "o que se esperar de um filme de 007". A história dos filmes de 007 teve seus altos e baixos - talvez a pior fase tenha sido com Roger Moore, onde, na década de 80 as bilheterias minguaram e praticamente se predestinou o fim da série. 
             Com a refilmagem de Casino Royale, apresentando Daniel Craig como o novo 007, parecia que haviam rescussitado com vigor este ícone do cinema. O filme seguinte, Quantum of Solace, não entusiasmou nem os fãs nem a crítica, e novamente voltou a pairar no ar a dúvida sobre o futuro de 007.
             Para este novo filme a produção caprichou ao escalar a equipe. Ótimo roteiro, Sam Mendes (de Beleza Americana) como diretor, além de coadjuvantes de luxo, como Ralph Fiennes, e principalmente, Javier Bardem. Os vilões sempre foram um ponto alto dos filmes de 007, e Bardem veio adicionar à galeria um dos melhores, superando de longe o seu trabalho premiado em Onde os Fracos Não tem Vez. Se é possível, ainda, um 007 ser original, talvez em seu vilão esteja o toque de originalidade. Até hoje, os inimigos de James Bond eram doidos de carteirinha com propósitos sombrios de dominar o mundo, planejando maluquices intangíveis como destruir a lua com um canhão de raio-laser. Mr. Silva (Bardem) é o inimigo na trincheira, atuando "nas sombras", cria do próprio serviço britânico de espionagem, causando um grande alvoroço apenas atuando como um poderoso hacker, o que lhe confere uma desconfortável verossimilhança.





            Sam Mendes teve total liberdade para dirigir Skyfall, a mesma que o produtor executivo Spielberg havia lhe dado quando fez Beleza Americana. A maior contribuição que Mendes trouxe foi o diretor de fotografia Roger Deakins. As sequencias externas em Hong-Kong são visualmente deslumbrantes, com um emprego de luz e cores que traduzem a atmosfera da cidade dominada pelos grandes anúncios em neon. 
             Skyfall perde um pouco do ritmo quando se aproxima do final, principalmente na longa sequencia que se passa na propriedade, antes pertencente aos pais de Bond, que dá título ao filme. Podemos acusar esta sequencia pelas quase 2h30 de duração do filme, que poderia ter sido um pouco enxugada. Neste ponto, o brilhantismo da performance de Bardem e da estupenda sequencia de Hong Kong ficam para trás, infelizmente. Mas o resultado como um todo ainda fazem deste um dos melhores James Bond produzidos nas últimas gerações. 

Se você gostou de 007-Operação Skyfall, talvez também goste destes filmes:


TRAMA INTERNACIONAL

                       
CASINO ROYALE


Conspiração Americana


   Talvez propositalmente - ainda herança de ditadura dos anos 60-70 - a disciplina de História foi subestimada em nossas escolas. Sabemos tão pouco sobre o passado do nosso país, o que dirá sobre a história de outros países e culturas ! Por isso, o filme Conspiração Americana se desenrola quase como uma ficção para nós, espectadores brasileiros, afinal sabemos muito pouco sobre o episódio aqui retratado. Todo mundo sabe que o presidente Lincoln foi assassinado, em um teatro, por um homem mais tarde identificado como sendo ele próprio um ator teatral. E o que mais? Provavelmente nada mais. Então, imagino que o filme pareça até mais interessante a um brasileiro que a um americano, pois de verdade não sabemos como essa história irá terminar. Cientes de que História não rende muito em bilheterias, o filme nem foi lançado nos cinemas, levando 2 anos para chegar às locadoras.
    Conspiração Americana não é o primeiro filme de Robert Redford, e nem o melhor. Ele já provou como diretor que pode produzir filmes realmente muito bons, como Gente como a Gente e Quiz Show.  Conspiração... não está no mesmo nível de realização, mas tem em comum com esses 2 um excelente roteiro, uma direção firme (embora aqui não muito inspirada) e excelentes atores para o filme uma experiência plenamente satisfatória. 
     Redford, para quem não sabe, sempre foi praticamente um ativista, defensor de vários ideais democratas e um ferrenho crítico do partido republicano. Além de ter criado e manter um festival de cinema em uma pequena cidade dos Estados Unidos (Sundance, uma espécie de Gramado americana), Redford atuou em defesa de causas ecológicas, feministas e dos negros. Por isso, a decisão de filmar o episódio do assassinato do presidente Lincoln e o julgamento que o sucedeu, envolvendo aqueles acusados de conspirar e tramar o assassinato, não pode ter surgido gratuitamente, como apenas mais um filme a dirigir. Há um recado claro para esses tempos de neurose terrorista pós-21 de setembro. 
     Se o resultado fica apenas dentro do mediano, numa perspectiva meramente cinematográfica, o cuidado com a produção e a oportuna "mensagem' democrática que a trama inspira já é suficiente para torná-lo uma visão quase obrigatória.

Se você gostou de Conspiração Americana, talvez também goste destes filmes:


A QUEDA
AS ÚLTIMAS HORAS DE HITLER
DESAPARECIDO
UM GRANDE MISTÉRIO
               
         



Looper - Assassinos do Futuro


      Confesso que só me interessei em assistir Looper porque vi no site do MetaCritic (que reúne opinião dos internautas e críticos especializados) que o filme tinha conseguido a pontuação de 86 (no máximo de 100). O preconceito e , às vezes, um certo fastio sobre as produções corriqueiras podem nos afastar de filmes interessantes. O subtítulo brasileiro "Assassinos do Futuro" não ajuda a atrair um público interessado em filmes que vão além do feijão-com-arroz despejado toda semana nos cinemas, sendo apenas uma apelação comercial. 
        Já foram feitos tantos filmes sobre viagem no tempo que o assunto pode ser considerado até um sub-gênero dos filmes de ficção científica. Mas a abordagem é o que conta, porque o assunto pode tanto render um thriller de ação como Exterminador do Futuro ou uma comédia leve familiar, como  De Volta para o Futuro.  Looper se propõe a ser 2 coisas ao mesmo tempo, e consegue ser eficaz em ambas: divertir e fazer pensar. Dependendo do espectador, poderá usufruir de uma ou de outra, ou das 2 abordagens. 
    Num futuro não muito distante, o mundo não está assim tão diferente de hoje. Um pouco mais de tecnologia, mas também muita violência e pobreza, proporcionando, como hoje, muitas oportunidades aos "fora-da-lei". Joe (Gordon-Levitt) é um deles, vivendo uma tediosa vida sexo-drogas-assassinatos (e nenhum rock´n´roll). Gordon-Levitt, ajudado pela maquiagem, consegue imitar os trejeitos de sua personagem na versão "amanhã", ou seja, Bruce Willis. Mas, no final das contas, quem rouba a cena mesmo é o garoto Pierce Gagnon (como o menino com super-poderes, Cid). 
       
Bruce Willis e Joseph Gordon-Levitt num momento "eu sou você, amanhã"



     Looper é um típico filme-B americano, feito sem muita grana, mas por isso mesmo cheio de inventividade. Sua visão do futuro, no nível pictórico, é bem realista, sem a exuberância de produções requintadas como Blade Runner. Mas é na estrutura de sua narrativa que ele nos brinda com ideias interessantes, lembrando um pouco o que alguma séries de TV tem feito ultimamente, como J.J.Abrams, com Lost
       A questão de sempre dos filmes de viagem no tempo está lá: podemos mudar o futuro, alterando o presente? Para o filme a resposta é sim, mas exige um sacrifício sobre-humano, que na maioria das vezes somente o amor de uma mãe por um filho, ou de um homem por sua amada é capaz. É nesse componente fascinante da condição humana, alternadamente capaz do pior e do melhor, que o filme se destaca sobre os simples filmes de ação normalmente produzidos, onde temos os bonzinhos de um lado e os malvados de outro, numa formatação estereotipada. Em Looper as personagens são humanos. Ponto.       

A Separação


        A Separação foi lançado nos cinemas do Brasil no início do ano e já está nas locadoras há alguns meses, mas somente agora consegui vê-lo. O filme recebeu uma enxurrada de prêmios internacionais, incluindo o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Para o popular crítico americano Roger Ebert, A Separação foi o melhor filme de 2011, superando os elogiadíssimos O Artista e A Árvore da Vida.
          Para quem pode torcer o nariz com a possibilidade de assistir um filme iraniano, é bom lembrar que nos últimos anos, por motivos que desconheço, o Irã despontou no panorama do cinema mundial, como já havia acontecido antes com o cinema de Hong Kong, por exemplo. Além disso, ao contrário do que se possa imaginar, A Separação não é um filme-de-arte, um filme experimental, existencialista, ou com longos planos silenciosos, como a maioria das pessoas imagina um filme europeu ou asiático. Embora sendo um drama familiar, tem um ritmo até bastante ágil no desenrolar da história.
       Sabe aquela máxima,"fale para sua aldeia, fale para o mundo". Pois é isso que propõe o diretor Farhadi. Embora em alguns momentos, nos escape o significado de alguns aspectos da complexa sociedade moderna iraniana, num delicado momento entre o passado extremamente ditado pela religiosidade e sua inevitável modernização tecnológica e de costumes, impulsionados por uma silenciosa influencia ocidental, o filme está mais interessado em discutir os valores universais da condição humana. No Irã, Brasil, ou onde quer que seja, os cidadãos de bem digladiam-se no seu dia-a-dia numa batalha entre a vontade bem-intencionada de fazer a coisa certa e sua sujeição aos valores impostos pela sociedade ou mesmo o intrínseco egoismo nato do ser humano. Todos querem fazer o melhor, mas se perdem em escolhas erradas e comportamentos inadequados. 

Simin (Leila Hatami) e Nader (Peyman Moadi), em cena do filme

          A Separação não tem efeitos especiais, não tem nenhuma estupenda fotografia e nem mesmo possui uma trilha sonora para pontuar a ação, mas tem o "trio de ouro" que faz de qualquer filme uma verdadeira expressão artística: um excelente roteiro, rico de nuances psicológicas e críticas sutis à sociedade iraniana - sua religiosidade, seu aparato judiciário, seus costumes, preconceitos e separação de classes; atores extremamente convincentes, tanto os principais da trama quanto os inúmeros coadjuvantes, com destaque para o trabalho da atriz infantil Sarina Farhadi - filha do diretor - no papel de filha do casal em processo de separação; e acima de tudo, paira o espetacular trabalho como diretor de Farhadi, orquestrando tudo com a sutileza de colocar o espectador como se fosse mais uma personagem, uma presença imperceptível, e por isso mesmo, não sendo onipresente, não acompanhamos tudo. São exatamente alguns fatos que deixamos de acompanhar e ver como espectadores que enriquecem a forma de desenrolar a trama, lapsos que como espectador deixamos de acompanhar, mas que colaboram para impactar na nossa reação emocional. 
           Em seu final, A Separação não propõe soluções, e tampouco se mostra minimamente manipulador, deixando para o espectador tirar suas próprias conclusões. Uma dessas conclusões, no meu caso, é que o filme é realmente especial e raro, que já nasceu como um clássico moderno do cinema mundial.

Headhunters (Hodejegerne)

    
      Headhunters foi celebrado como uma grata surpresa para o cinema comercial do ano de 2011. Rodado na Noruega, mas com equipe de produção sueca responsável pelo sucesso da trilogia Millenium , o filme foi lançado no Brasil apenas em cinemas de arte nas capitais, e agora nas locadoras em DVD/Blu-ray, onde terá a chance de conquistar o público que merece. Porque apesar de ser europeu, Headhunters não é absolutamente um filme-de-autor, mas um thriller tipicamente influenciado pelo cinema americano. E, mesmo assim, consegue transmitir algo de novo e original , o que é sua melhor qualidade. 
      Para quem não sabe o que é um "headhunter", no caso do filme a personagem Roger Brown (Aksel Hennie), é um caça-talentos de executivos para grandes empresas. Sua vida parece perfeita: dinheiro, uma linda esposa, uma carreira no topo, até que tudo muda quando entra na sua vida o misterioso Clas Greve (Nicolaj Coster-Valdau).

O trio principal de Headhunters em cena do filme
       Embora baseado num livro, o filme tem claramente influência de 2 diretores: sua história é um enredo clássico de Hitchcock sobre o homem comum , de vida equilibrada, que se vê de repente tendo que enfrentar situações-limite (como em O Homem que Sabia Demais, Intriga Internacional). No entanto, se nos filmes de Hitchcock os heróis eram cidadãos acima de qualquer suspeita, em Headhunters isso não pode ser dito sobre Roger Brown. Pelo uso do humor-negro e metáforas visuais, que infelizmente muitas vezes passam despercebidas ao olhar comum do espectadores, o filme lembra os melhores trabalhos dos irmãos Coen (Gosto de Sangue, Fargo).  
       A partir de sua metade, Headhunters dá uma reviravolta na narrativa, quando assume totalmente sua condição de thriller de ação. Roger Brown passa a lutar pela sua sobrevivência, encarando com inteligência e perspicácia as situações-limite que vão se apresentando para ele, tudo dentro de uma verossimilhança possível, ou seja, ele não se transforma do nada em algum James Bond. Esse tom de humanidade, desespero e angústia é demonstrado na medida exata pela interpretação de Aksel Hennie.
      Há outro aspecto sobre o filme que devo comentar. A qualidade da sua versão em Blu-ray é a melhor que pude ver até hoje, com a limpidez de imagem somente igualável a uma transmissão HD da TV por assinatura. Para quem gosta do gênero thriller, Headhunters tem tudo para agradar e surpreender. Fica a dica: não espere pela refilmagem americana.

       Se você gostou de Headhunters, talvez também goste destes filmes:

GOSTO DE SANGUE
OS HOMENS QUE NÃO
AMAVAM AS MULHERES
  

O Pior dos Pecados (Brighton Rock)


     A frase na capa do DVD de O Pior dos Pecados - uma história de amor entre um assassino e a testemunha - resume corretamente mas não totalmente a trama do filme.  O interesse principal da trama, baseada no livro clássico de Graham Greene - Brighton Rock - diz respeito, sim, à uma improvável testemunha que se apaixona pelo assassino de um crime.  Mas, no entanto, pode fazer parecer que se trata de um filme romântico, o que está longe de ser, sendo mais um thriller sobre a luta de poder entre gangues rivais. Há muito mais a ser contado na história, que na verdade já foi filmada na década de ´40, com o veterano Richard Attenborough no papel principal. Como não vi a outra versão, não tenho como fazer a comparação, se esta restou melhor ou não.
     As cores pálidas da foto do cartaz também dão o tom seguido pelo diretor estreante no cinema Rowan Joffe (filho do conhecido Roland Joffe, de Os Gritos do Silêncio e A Missão). Joffe tem muito mas experiência como roteirista, tanto de cinema quanto de TV, e na verdade como diretor acabou descuidando do roteiro, que se desenvolve deixando muitas interrogações e sub-tramas mal-compreendidas. 

Rose (Riseborough) e Pinkie (Riley) em cena do filme

     No entanto, O Pior dos Pecados é um típico filme inglês, no sentido de uma produção caprichada, mas feita dentro de um esquema quase artesanal, fora dos padrões dos grandes estúdios, o que lhe dá uma aura mais artística que se perderia caso fosse produzido em Hollywood. Os quase desconhecidos Sam Riley e Andrea Riseborough - obsessiva em sua ilusória paixão - dão conta do recado nos papéis principais, contando com os coadjuvantes de luxo Helen Mirren (A Rainha) e o veteranísssimo John Hurt. Só eles já garantem a qualidade final da produção. 

A Outra Terra (Another Earth)

   
     Neste ano de 2012 são tantos filmes falando do "fim do mundo", graças à interpretação do calendário maia. Mas A Outra Terra fala não do fim do mundo, mas de um novo mundo. A descoberta e a cada vez maior proximidade de um planeta "clone" da Terra - uma "Terra 2" - desperta curiosidade, ansiedade e esperança entre os terráqueos. 
     No entanto, o filme não é bem uma ficção-científica, mas acima de tudo um drama, bastante humano,  com toques de ficção científica. Centrado na relação dos protagonistas Brit Marling e William Mapother (conhecido com um dos vilões da série Lost), a "Terra 2" passa a significar uma segunda chance para os 2, mas por ironias da vida só há lugar para um deles na primeira nave que se aventura a conhecer nosso planeta gêmeo...
     
Os atores Brit Marling e William Mapother em cena do filme
     A Outra Terra foi a grande sensação do Festival de Sundance, criado e patrocinado pelo ator Robert Redford, vencendo em 2011 o Prêmio Especial do Júri. O mais incrível é que se trata de primeiro filme (roteiro e direção) de Mike Cahill, que demonstra grande talento e confirma minha teoria que roteiros originais (não baseados em livro ou peça de teatro) na maioria das vezes rendem resultados finais melhores do que as mais comuns adaptações. 

     Acho que desde Gattaca - a Experiência Genética não surgia um drama com toques futurísticos tão bom e tão profundo em suas questões. Uma boa estréia do novato diretor Cahill, de quem só nos resta esperar coisas boas para o futuro.

Se você gostou de A Outra Terra, talvez também goste destes filmes:

GATTACA








CÓDIGO 46

O Fenômeno Intocáveis

   
     Na lista das 100 maiores bilheterias mundiais de todos os tempos, só encontrávamos 2 filmes não falados em inglês. A partir deste ano, mais um filme veio se juntar ao time: Intocáveis, filme francês de 2011 que se tornou um fenômeno mundial, já tendo arrecadado mais de 350 milhões de dólares - tornando-se a 9ª maior bilheteria mundial de 2012.
    Somente na França, foi visto por mais de 19 milhões de espectadores. Para se ter uma ideia, a população da França é hoje de pouco mais de 62 milhões de pessoas.  O filme brasileiro mais visto por aqui é ainda Tropa de Elite 2, que alcançou quase 11 milhões de espectadores no cinema, com a diferença que a população do Brasil é hoje de mais de 190 milhões de pessoas. Mas o sucesso do filme é mundial mesmo, e uma refilmagem americana já foi anunciada, provavelmente estrelada por Colin Firth, substituindo François Cluzet da versão original.

François Cluzet e Omar Sy em cena do filme
     Intocáveis tem estréia prevista no Brasil para 31 de agosto, sem título ainda definido. Espero que sua exibição nos cinemas não se limite somente às capitais. Isso vai depender do filme repetir aqui o sucesso que tem alcançado pelo mundo afora.

CURIOSIDADE: Omar Sy, que co-estrela o filme com François Cluzet, para surpresa de todos, venceu o prêmio de melhor ator no César 2012 (o Oscar da França), vencendo Jean Dujardin, de O Artista.

O Abrigo (Take Shelter)


       Há 2 filmes recentes que receberam no Brasil o nome de "O Abrigo". Um deles é um thriller de terror com Julianne Moore. Mas este O Abrigo, apesar do título e mesmo das sinopses que circulam pela Internet e na capa do DVD, está longe de ser um filme de terror. O filme virou uma lenda por ter sido produzido pela bagatela de 1 milhão de dólares, um valor irrisório se comparado aos orçamentos que ultrapassam a casa dos 100 milhões dos blockbusters americanos. Mesmo para os padrões do cinema brasileiro esta cifra parece inacreditável. Mas o diretor, também autor do roteiro, conseguiu a proeza filmando numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos, utilizando em muitos cenas, como figurantes, a população local. 
        Tudo isso prova que uma boa história, bem dirigida e com bons atores não precisa de muita grana para render um bom filme. E é isso que O Abrigo consegue. Sua história é enxuta, bem desenvolvida, e aberta a muitas interpretações. Quem representa uma ameaça maior à família de Curtis (Shannon), a grande tempestade que ele profetiza em seus sonhos e visões ou seu comportamento, por ele mesmo reconhecido como esquizofrênico e psicótico?  Suas neuroses e paranóias, não condizem com o comportamento atual da sociedade americana, vendo terroristas em cada esquina, dos quais eles precisam se proteger ? É interessante ver nos extras do DVD a entrevista com Michael Shannon, onde ele expõe sua interpretação sobre o enigmático final. 

Michael Shannon como Curtis Laforche em O Abrigo
        Michael Shannon, que era a presença mais interessante em Foi Apenas um Sonho, pois em poucas cenas conseguir roubar a cena dos famosos Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, tem em O Abrigo sua melhor interpretação até agora. Todos os elogios que recebeu são merecidos. E sua co-protagonista, Jessica Chastain, marcou o ano de 2012 com nada menos que 9 filmes (além desse, esteve presente nos famosos A Árvore da Vida e Histórias Cruzadas, entre outros). 

Se você gostou de O Abrigo, talvez também goste destes filmes:

TEMPORADA DE CAÇA
BARTON FINK

Marilyn, Glenn Close e as Domésticas Espanholas


7 DIAS COM MARILYN (My Week with Marilyn). O triste para um cinéfilo como eu é filme após filme criar  expectativas com filmes frustrantes. Por isso, quando algum filme como este Marylin, supera essa expectativa é motivo de grata surpresa. Porque embora a atuação de Michelle Williams tenha sido bastante elogiada e premiada, a mesma atenção não foi dedicada ao filme em si, o que é uma injustiça. É claro que sua interpretação é espetacular mesmo. Muitas pessoas à época da produção do filme disseram que ela era uma escolha errada, que pouco se parecia fisicamente com Marilyn Monroe. Mas Williams calou a boca de todos, mostrando o quanto estavam errado. Se ela ficou ou não parecida com a verdadeira Marilyn torna-se irrelevante, porque ela soube captar a essência e compor sua personagem de maneira esplêndida. Kenneth Branagh também não se parece com Laurence Olivier, e sua performance é igualmente excelente. O que torna o filme extremamente interessante é não ser uma cinebiografia, com a intenção de contar a vida de Marilyn, mas sim estar focado como diz o título, em uma semana apenas do seu breve relacionamento com o inglês Colin Clark , autor do livro que inspirou o filme.



ALBERT NOBBS. Muitos filmes já foram feitos sobre homens se passando por mulher (Tootsie, Quanto Mais Quente Melhor) ou mulheres se passando por homem (Meninos Não Choram, Yentl), mas a quase totalidade deles sempre abordaram o assunto de forma leve, cômica. Albert Nobbs é um drama, e parece que perdeu a chance de explorar com mais profundidade essa condição da personagem principal. Glenn Close praticamente escondida por trás de uma pesada maquiagem para deixá-la com feições masculinas tem pouco espaço para a interpretação, estando longe do que sabemos que ela é capaz (sua melhor interpretação continua sendo como Madame de Tourvel, em Ligações Perigosas), e sendo praticamente ofuscada por uma composição superior na interpretação de Janet McTeer. Glenn Close apostou alto no filme, colaborando no roteiro e na produção, mas resta a impressão de que o assunto merecia um tratamento mais profundo da personagem, o que poderia ter rendido uma história bem mais interessante.





AS MULHERES DO 6º ANDAR (Les Femmes du 6ème Étage). O "sexto" andar do título é na verdade o que chamaríamos de sótão, e é onde moram as domésticas de um condomínio da Paris na década de ´60, todas elas espanholas, prestando serviços aos patrões que habitam os andares abaixo. Um deles, Sr. Joubert vai romper o distanciamento patrão-empregado e passa a mudar as condições da vida dessas empregadas espanholas, que por sua vez, é claro, irão influenciar e mudar para sempre a vida tediosa do Sr. Joubert. Mulheres do 6º Andar é uma simpática e agradável comédia, que se dá ao luxo de ter como coadjuvante a estrela dos filmes de Almodóvar, Carmem Maura.

Românticos Anônimos


     O título original, bem traduzido, seria "Emotivos Anônimos" e não "Românticos Anônimos", uma referência aos grupos do tipo Alcóolicos Anônimos, cujos membros se auto-ajudam por sofrerem do mesmo mal e passarem pelas mesmas dificuldades. Pois, os "emotivos anônimos" seriam pessoas tão tímidas ou tão emotivamente à flor da pele que teriam grandes dificuldades com as coisas simples da vida (para os outros), sendo o pesadelo píor conseguirem iniciar uma relação amorosa. 
      Confesso que não são muito fã de comédias românticas, tão previsíveis, tão sem sal na maioria das vezes, cheias de batidos clichês e com parzinhos românticos sempre representados pelo casal "bonitinho" mais em evidência em Hollywood. 
      Mas Românticos Anônimos é uma agradável surpresa. Tão despretensioso, tão leve, simpático e divertido, que se torna realmente um prazer assisti-lo. O diretor, Améris, soube dosar bem romantismo e comédia, e teve a sorte ou faro para entregar os papéis principais aos excelentes Benoît Poelvoorde (Jean-René) e Isabelle Carré (Angélique), que com interpretações interiorizadas conseguem compor suas personagens de forma delicada, mas rica em detalhes.
         Se você acha comédias românticas por demais açucaradas, e as evita como um diabético evita açúcar, a única contra-indicação de Românticos Anônimos a chocólatras como eu, é que assisti-lo dá uma vontade enorme de comer chocolate!

Benoît Poelvoorde (Jean-René) e Isabelle Carré (Angélique)


De Repente, 30

Os novos clássicos, produzidos em 1982, foram muito marcados pela música. Trilhas sonoras marcantes, originalmente produzidas para eles ou não, ficaram tão ou mais famosas que os filmes em que foram utilizadas. Um musical (Vitor ou Vitória?), uma ópera-rock (Pink Floyd - The Wall), 2 trilhas populares (E.T. e Blade Runner) confirmam isso.

E.T. O EXTRATERRESTRE (E.T. - The Extraterrestrial). Para quem hoje tem entre 30 e 40 anos, este provavelmente foi o filme de sua infância. Foi o filme mais visto da década (e uma das maiores bilheterias de todos os tempos), mas embora considerado para crianças, agradou muito marmanjo. Lançou Drew Barrymore - hoje, além de atriz, é também produtora e diretora - a única criança do elenco que emplacou uma carreira após o filme. A sequencia do voo da bicicleta é o ponto alto do filme, que inclusive virou o logotipo da produtora Amblin, de Steven Spielberg.

BLADE RUNNER. Embora tenha sido um fracasso em sua estréia, este filme noir de ficção científica foi aos poucos conquistando uma legião de fãs. Várias reestreias depois e novas versões do diretor, esse cult acabou agradando, tendo sido incluído na lista da revista Time como um dos 100 melhores filmes de todos os tempos. Ridley Scott foi além de uma simples aventura de ficção científica - que é o que parece que o grande público queria - com temas como a mortalidade e o destino do homem como indivíduo e seu futuro no planeta. A soberba e nada óbvia trilha sonora de Vangelis - jazz para embalar um policial futurista - além de um excelente trabalho de ambientação e inovadores efeitos visuais resultou numa produção caprichada, que ainda resiste ao tempo.


FANNY & ALEXANDER. (Fanny och Alexander).  Talvez o mais acessível filme de Bergmann, que não escondeu que o filme tem muito de autobiográfico, é praticamente uma celebração da vida, da família, da infância, do amor e do sexo - algo inusitado em seus filmes até então. Com uma produção caprichadíssima, recebeu 4 Oscars - além de filme estrangeiro, fotografia, direção de arte e figurino - o terceiro para Bergmann e o segundo para seu fotógrafo Sven Nykvist. 



VITOR OU VITÓRIA ? (Victor/Victoria).  O melhor musical em anos, o filme é mais uma comédia recheada com números musicais, refilmagem de uma desconhecida e antiga produção alemã.  Marcou um retorno triunfal do diretor Blake Edwards (da série Pantera Cor-de-Rosa) e da atriz Julie Andrews (de Noviça Rebelde).  O imbroglio da trama - uma mulher que se faz passar por um homem que se faz passar por uma mulher - tinha uma similaridade com Tootsie, lançado no mesmo ano, o que fez muitos se perguntarem se tinha havido vazamento de projetos pelos estúdios concorrentes. Tootsie levou a melhor na bilheteria, e teve o apoio da crítica que via nele mais conteúdo, mas Vítor ou Vitória ? revelou-se um clássico instantâneo, com excelente trilha de Henry Mancini - vencedora do Oscar naquele ano.


PINK FLOYD - THE WALL.  Roger Waters  revelou que ao lançar o projeto do álbum The Wall, já o havia idealizado como um filme, que foi lançado somente 2 anos depois do disco. Outras experiências de filmes ópera-rock foram feitas na década de ´70 - como Tommy, do The Who - mas nenhuma foi tão bem sucedida como esta produção do experiente Alan Parker (O Expresso da Meia-Noite, Fama), que contou com a inestimável colaboração no visual do designer Gerald Scarfe. Poucas vezes no cinema, música e imagem tiveram um casamento tão visceral.

Outros clássicos que completam 30 anos:

Um Método Perigoso


David Cronenberg, diretor de Um Método Perigoso, começou com thrillers de terror como Scanners (1981)Videodrome (1983) e A Mosca (1986) e depois mergulhou de cabeça em projetos bem alternativos como Mistérios e Paixões (1991). Nos últimos anos parecia bastante interessado em retratar e analisar a violência na América (ou seja, os Estados Unidos, porque Cronenberg é canadense), em filmes onde atingiu sua maturidade como diretor (Uma História de Violência - melhor filme pela Associação dos Críticos Americanos em 2005 - e Senhores do Crime-2007), deixando de lado os excessos de seus primeiros filmes. Este Método Perigoso foi recebido sem entusiasmo pela crítica, que achou o filme fraco se comparado com seus 2 últimos trabalhos. Além disso, embora unanimemente elogiadas as performances de Viggo Mortensen como Freud (3º filme que faz com o diretor) e Michael Fassbender como Jung, a interpretação de Keira dividiu opiniões. Alguns acharam exagerada nos tiques nervosos (um "overacting", como se diz em inglês), outros acharam corajosa. 


O trailer do filme faz questão de enfatizar cenas de sexo, para vendê-lo comercialmente, mas quem tiver esta expectativa em relação ao filme vai ficar decepcionado. Embora roteiristas e diretor tenham tomado todas as liberdades possíveis a partir do que historicamente se sabe entre a amizade Freud e Jung e o relacionamento desse com sua paciente Sabina Spielrein (Keira Knightley), o filme realmente é até bem-comportado e feito num formato de narrativa bem clássico, apoiado nos diálogos e interpretações.


Um Método Perigoso está muito acima da média de tudo que é feito atualmente no cinema. E se, realmente, neste filme Cronenberg não impôs um estilo pessoal à narrativa, isto não pode ser de forma alguma analisado como um defeito. Se este é seu filme "fraco", um cinéfilo como eu se daria por satisfeito em ter mais chance de ver filmes fracos assim. No boca-a-boca, Método Perigoso acabou conquistando um público realmente interessado em ver filmes como esse, que fogem do trivial que é jogado a cada semana nos cinemas, alcançando perto de 300.000 espectadores no Brasil e quase U$ 30 milhões em todo o mundo - uma excelente marca hoje em dia para filmes que vão além de efeitos especiais.

Curiosidade: a mesma história já foi retratada antes no cinema, no filme italiano Jornada da Alma, de 2003.

Chegando aos 40...


1972 foi um excelente ano para o cinema. Grandes clássicos de hoje foram lançados (foi difícil escolher somente 5 para comentar). Em termos de popularidade nenhum atingiu o sucesso de O Poderoso Chefão, que criou sua própria mitologia. Até hoje, jovens com metade da "idade" do filme tornam-se seus novos fãs.

Coppola dirigindo a famosa cena do casamento
O PODEROSO CHEFÃO (The Godfather).
Coppola não foi a primeira escolha do estúdio para dirigir o filme, por considerá-lo - um diretor relativamente jovem - uma aposta arriscada para uma superprodução. O sucesso do filme, além de salvar a Paramount da falência, representou a 4ª maior audiência, em número de espectadores, de toda a história do cinema. Marlon Brando, depois de alguns anos meio esquecido, voltou com força total no filme, ganhando seu segundo Oscar. Robert Duvall, , Al Pacino, James Caan e Diane Keaton tiveram com o filme o início de promissoras carreiras. É engraçado analisar hoje, 40 anos depois de seu lançamento, que à época o filme foi muito criticado pelo seu "excesso" de violência. A trilha sonora, composta pelo colaborador de Fellini, Nino Rota tornou-se uma das mais conhecidas e populares de todos os tempos e algumas frases de diálogos do filme entraram para o imaginário coletivo. O filme teve 2 continuações, com tramas suplementares que não constam do livro, escritas pelo próprio Mario Puzo, autor do livro. 
Curiosidade: A história de O Poderoso Chefão foi primeiramente um roteiro escrito por Puzo, mas que os estúdios num primeiro momento recusaram por achar que filmes sobre gângsters estavam fora de moda. Com o sucesso do livro - que adaptava seu próprio roteiro - o autor conseguiu vender os direitos de filmagem, além da exigência de colaborar na adaptação para as telas.


Liv Ullmann e Erland Josephson em cena do filme
GRITOS E SUSSURROS (Viskingar och Rop/Cries and Whispers). Quando de seu lançamento foi saudado não apenas como um dos mais importantes filmes já produzidos, mas como uma das melhores obras de arte do século XX. Além dos temas que sempre estão presentes em seus filmes - como a "ausência" de Deus, a passagem inexorável do tempo e a dificuldade do homem em lidar com seus sentimentos e o esmagador peso da consciência da própria morte - o diretor chegou ao ápice de seu domínio da arte do cinema, com brilhante utilização da cor e direção de arte para ajudar a criar a atmosfera perfeita para a história. A deslumbrante fotografia de Sven Nykvist ganhou o Oscar, além do filme ter conseguido mais 5 indicações, incluindo melhor filme. Gritos e Sussurros não é certamente um filme para você ver comendo pipoca, mas se você der uma chance à sua proposta e se deixar levar por este drama intenso, não terá sido apenas mais um filme que você assistiu, mas uma experiência única e inesquecível - uma catarse completa - além de presenciar um dos mais impressionantes conjuntos de interpretações em um único filme (Liv Ullmann, Harriet Andersson e Ingrid Thulin estão totalmente entregues em suas interpretações, não parecendo estar representando, mas vivendo através de suas personagens).


Liza Minelli dá vida a Sally Bowles, em Cabaret
CABARET. O filme musical já tinha sido quase decretado como morto, quando Bob Fosse revolucionou o gênero com este filme, isolando os números musicais da trama, ou seja, nada de atores saindo cantando e dançando pela rua, com músicas cujas letras são praticamente diálogos. Em Cabaret, os atores só dançam e cantam "no Cabaret" do título. A caprichada produção, os inesquecíveis números musicais e as inspiradas performances de Joel Grey (como o mestre-de-cerimônias) e Liza Minelli - ambos vencedores do Oscar - garantem a qualidade do único musical realmente importante lançado na década de ´70. Mesmo quem torce o nariz pra filme musical tem muita chance de gostar desse.
Curiosidade: desacreditado pelos produtores de Hollywood, que chegaram a perguntar: "quem quer ver um musical com nazistas ?", o filme foi um grande sucesso de público e crítica, superando O Poderoso Chefão no número de Oscars - 8, no total.


Marlon Brando e Maria Schneider
O ÚLTIMO TANGO EM PARIS (Ultimo Tango a Parigi/Last Tango in Paris). Precursor do erotismo na chamado cinema de arte. Marlon Brando e Maria Schneider são a presença dominante do filme, em sua maior parte nús, o que fez o grande público encarar o filme como pornográfico. O filme pode ter envelhecido na sua ousadia sexual, mas isso não aconteceu com a extraordinária trilha sonora composta pelo argentino Gato Barbieri, cuja música-título é com certeza um dos temas musicais mais populares de todos os tempos.
CuriosidadeFicou proibido no Brasil, na época da ditadura militar, por aproximadamente 7 anos. Nessa época, alguns brasileiros iam ao Uruguai assisti-lo tamanha a curiosidade despertada pela propaganda que anunciava quentes cenas de sexo nunca vistas antes no cinema.


O "machão" Burt Reynolds e o tímido Ronny Cox
AMARGO PESADELO (Deliverance). John Boorman fez fimes tão diferentes entre si (Excalibur, Duelo no Pacífico, Em Minha Terra), mas todos marcados pelo embate entre o homem e as forças da natureza. Em Amargo Pesadelo, um banal programa de pescaria entre amigos se transforma perturbadoramente em uma história de violência, em que o diretor praticamente defende a tese sobre a natureza selvagem presente em cada um de nós. O filme ainda é bastante moderno e impactante, e fez muito sucesso na época, chegando a ser indicado a 4 Oscars, incluindo melhor filme. Sua cena mais famosa é a de um duelo de banjo, no ínicio do filme, entre Ronny Cox e um menino cego. Além de Cox, o elenco tem John Voight, Burt Reynolds e Ned Beatty num filme onde só há personagens masculinos.
Curiosidade: o rio Cahulawaseee do filme na verdade não existe com esse nome, as filmagens foram feitas no rio Chatooga, na Carolina do Norte-EUA.


Outros clássicos que completam 40 anos:


               
                        AGUIRRE, A CÓLERA
                     DOS DEUSES
                    (de Werner Herzog)
O DISCRETO CHARME
DA BURGUESIA
(de Luis Buñuel)