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Toda Forma de Amor (Beginners, 2011)



Toda Forma de Amor está sendo lançado no Brasil simultaneamente nos cinemas e em DVD. O título brasileiro, como muitas vezes acontece, pode sugerir que o filme é uma comédia romântica, o que ele na verdade não é.  Toda Forma de Amor lembra muito o estilo dos diretores Todd Solondz (Felicidade) e Hal Hartley (Confiança). O título original - Beginners - que se traduz como iniciantes, principiantes, ou mais livremente como inexperientes, faz alusão à ideia geral do filme que a cada novo relacionamento, somos novamente principiantes. A experiência, os anos de vida não fazem a menor diferença. O contra-ponto principal do filme é entre um pai e seu filho. O pai, com 75 anos e agora viúvo, decidiu assumir sua homossexualidade, com direito a namorado novo. O filho, que se acha um velho com 38 anos, luta para mais uma vez fazer durar uma relação amorosa. Toda Forma de Amor trata com bastante humanidade suas personagens principais, e esboça uma explicação na infância da dificuldade que a personagem de Ewan McGregor tem em manter um relacionamento. Com a morte do pai, e o seu exemplo da possibilidade do amor numa idade tão avançada, vai servir como uma alavanca para que o filho decida apostar todas as fichas. 

Christopher Plummer e Ewan McGregor 

Embora todas as láureas estejam sendo consagradas a Christopher Plummer (no papel do pai gay que com certeza vai lhe valer o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante neste domingo),  Ewan McGregor se sai muito bem, encarnando com um eterno olhar triste o seu papel de abandonado e solitário, um parceiro ideal para o cachorrinho que tem que cuidar após a morte do pai. Toda Forma de Amor parece ser construído pela máxima do nosso poeta Tom Jobim "é impossível ser feliz sozinho". Qualquer que seja a forma de amor, a idade dos envolvidos, as escolhas e dificuldades pelas quais passem, o diretor Mike Mills acredita que o amor sempre vale a pena. Criativo na narrativa, por vezes divertido e tocante, e com personagens muito bem construídas, Toda Forma de Amor vale a pena ser visto.


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Mãos que Curam


Costumo ir buscar um filme na locadora já com alguns títulos em mente, mas quando não os encontro, tem dias em que aposto na intuição, e acabo levando pra casa algum filme de que nunca ouvi falar antes. Foi assim com Mãos que Curam (El Mal Ajeno, Espanha-2010). O título me parecia mais algum filme espírita brasileiro, seguindo o sucesso alcançado pelos recentes Chico Xavier e Nosso Lar. Lendo um pouco sobre o filme na caixinha do DVD, vi que era espanhol (e tenho boas recordações de thrillers espanhóis recentes - O Labirinto do Fauno, Os Outros, O Orfanato, além dos filmes do Almodóvar), e resolvi apostar no escuro. 
O significado do título em espanhol - "El Mal Ajeno", ao pé da letra: o mal alheio, ou, melhor traduzindo: a dor dos outros - faz referência à indiferença e distanciamento com que o médico Diego - personagem principal de Mãos que Curam - passou a enfrentar o sofrimento experimentado por seus pacientes. Todos devem lembrar da famosa frase do Homem-Aranha: "Com grande poderes, vêm grandes responsabilidades".  Pois, no filme, Diego terá que aprender a lidar com um novo poder que passa a ter em mãos, literalmente. Um poder que não pediu, e cujas consequências, usando-o ou não, poderá afetar tantas vidas ao seu redor. Mãos que Curam trata disso, e mais: o que fazemos em nossas vidas com o que nos é dado - trabalho, talento, família, tempo, etc. 

Eduardo Noriega, em cena de Mãos que Curam

É mesmo impressionante como a filmografia espanhola é pródiga em criar histórias e personagens complexos. Isso é um ponto positivo no filme. Além disso, fruto do trabalho do diretor Oskar Santos, ou não - afinal, a Espanha tem muitos atores talentosos - o elenco é afinadíssimo. Mesmo as personagens/pacientes que pouco aparecem, o pouco tempo que têm no filme, roubam a cena. No entanto, o interesse maior de Mãos que Curam, e que consegue prender nossa atenção até o final, é a sua capacidade de fazer com que os elementos sobrenaturais da narrativa não ganhem mais importância que o drama vivido por cada uma das personagens.


Remakes - ou mais do mesmo



The Girl With The Dragon Tattoo
Rooney Mara na versão americana de Os Homens que Não Amavam as Mulheres

Toda vez que ouço falar que Hollywood vai produzir um remake de algum filme não-americano, me dá arrepios. Basta  um produtor acreditar que o filme estrangeiro tem uma boa história, com potencial para o sucesso, mas tem que ser "adaptado" ao gosto americano, a refilmagem está garantida. O problema é que, com poucas exceções, a comparação com o original deixa muito a desejar. Por isso, fico até aliviado quando divulgam que desistiram de produzir uma anunciada refilmagem - como aconteceu com Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos (ufa!). Mas a fábrica de remakes está cada vez mais rápida. Ano passado, eu tinha acabado de ver a versão sueca (original) do romance Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres, pra descobrir no youtube o trailer da versão americana, que já estava pronta. Tenho que confessar que só de ver o trailer não fiquei com a mínima vontade de conferir a nova versão, porque gostei muito do primeiro e acho que não tem o que ser melhorado. O objetivo das refilmagens raramente é este, ou seja, uma nova versão com mais recursos, uma nova visão da história, etc. , como foi a intenção de Tom Cruise ao produzir a versão americana do espanhol Abra os Olhos (Vanilla Sky) - embora nenhum dos 2 me agradou muito. A intenção primeira da refilmagem é faturar no chamado mercado doméstico (para os EUA e Canadá), tradicionalmente avesso a filmes legendados ou dublados, o que explica em parte por que filmes em língua não-inglesa não fazem muito sucesso por lá. Só consigo lembrar de 3 casos que emplacaram, recentemente: O Labirinto do Fauno, O Tigre e o Dragão e Amélie. De resto, filme europeu, asiático ou da América Latina só fazem um pequeno sucesso junto ao público apreciador dos chamados filmes independentes.

Asas do Desejo - ou Cidade dos Anjos

Na verdade, Hollywood adora repescar antigos sucessos, afinal, a maioria das refilmagens são mesmo de filmes americanos. King Kong e Nasce uma Estrela já ganharam 3 versões até hoje. Mas, na verdade, lembro de poucas refilmagens que, na minha opinião, superaram o original : 11 Homens e um Segredo , Thomas Crown e Dragão Vermelho. Alguns remakes, na verdade, se revelaram um verdadeiro desastre: O Silêncio do Lago  e Asas do Desejo, ultra-cult filme do diretor alemão Win Wenders que na versão americana, Cidade dos Anjos, transformou-se numa simples e melosa história de amor. Fiz uma pesquisa na internet e descobri que o país que mais forneceu material para remakes americanos foi a França , com impressionantes 51 títulos! Mas, o inverso já ocorreu também: os franceses refilmaram o americano Fingers (1978) : De Tanto Bater Meu Coração Parou (2005) - na minha opinião, superando em muito o original. Abaixo,  uma pequena lista de títulos famosos que você provavelmente viu,  mas nem imaginava que fossem refilmagens:

VITOR OU VITÓRIA ? (1982) - original: Viktor und Viktoria (1933-Alemanha)
A DAMA DE VERMELHO (1984) - original: Un éléphant, ça trompe énormement (1976 - França)
3 SOLTEIRÕES E UM BEBÊ (1987) - original: Trois Hommes et un Couffin (1985 - França)
PERFUME DE MULHER (1992) - original: Profumo di donna (1974 - Itália)
A ASSASSINA (1993) - original: Nikita (1990 - França)
TRUE LIES (1994) - original: La Totale! (1991 - França)
A GAIOLA DAS LOUCAS (1996) - original: La Cage aux Folles (1978 - França)
OS VIAJANTES DO TEMPO (2001) - original: Les Visiteurs (1993 - França)
O CHAMADO (The Ring, 2002) - original: Ringu (1998 - Japão)
DANÇA COMIGO? (2004) - original: Quer Dançar Comigo? (1996 - Japão)
OS INFILTRADOS (2006) - original: Conflitos Internos (2002 - Hong Kong)
DEIXA ELA ENTRAR (2007) - original: Lat den rätte komma in (2002 - Suécia)
OPERAÇÃO VALQUÍRIA (2008) - original:  Valkyrie (2004 - Alemanha)
O ÚLTIMO BEIJO (2006) - original: L´Ultimo bacio (2001-Itália)
ESTÃO TODOS BEM (2009) - original: Stanno Tutti Bene (1990 - Itália)
A CASA DO LAGO (2006) - original: Siworae (2000 - Coréia)
PERIGO EM BANGKOC (2008) - original: Bangkok Dangerous (1999 - Tailândia)