Alexander Payne (Eleição, As Confissões de Schmidt, Sideways - Entre Umas e Outras), como um típico diretor-autor escreve e dirige seus próprios filmes. Mais que roteirista e diretor, Payne é indiscutivelmente um humanista. Os erros e indecisões de suas personagens são sempre vistas com compaixão. Payne parece dizer que errar é humano, e que não há heróis, nem vilões, nem muito menos vítimas. Somos apenas homens. Imperfeitos por natureza. Um defeito de fabricação, por assim dizer. Os Descendentes (The Descendants, 2011) é até hoje seu filme de maior sucesso de crítica e bilheteria nos Estados Unidos. O nome de George Clooney como ator principal ajudou bastante, é claro. Clooney não é apenas o ator ou personagem principal da trama. Ele praticamente carrega o filme nas costas, de uma maneira que nunca experimentou antes. E longe do estereótipo de solteirão cobiçado. Sua personagem é um homem maduro, prestes a se tornar viúvo, que terá que finalmente assumir a criação das filhas que na verdade nem conhece direito. É impagável a cena em que tenta se aconselhar com o amigo da filha mais velha.
Dirigido com competência e mão leve, a história de Os Descendentes poderia facilmente descambar para o piegas e melodramático. Não há defeitos em sua narrativa, embora uma única cena não tenha me agradado, particularmente (não posso citá-la, pra não ser um spoiler - revelando o filme pra quem ainda não o viu). Payne é excelente diretor de atores, mas ainda fica apenas acima da média, sem grandes voos, limitado a executar bem o seu ofício. Para a crítica americana, com Os Descendentes , Payne já "chegou lá". Algo que vi acontecer com seus contemporâneos Jason Reitman (com Amor Sem Escalas - Up in the Air) e Paul Thomas Anderson (com Sangue Negro). Pessoalmente, ainda espero mais dele.